O que está por trás das rebeliões que estamos testemunhando ao longo de todo o Brasil? Embora várias hipóteses já tenham sido aventadas, creio que, no fundo, estamos vivenciando uma rebelião contra mentiras. Trata-se de uma rebelião dos jovens contra as mentiras que "aprenderam" em suas escolas, nas universidades e nos meios de comunicação de massa, principalmente na televisão. Embora a juventude provavelmente possua mais instinto do que sabedoria, é fato que ela instintivamente está consciente de que está sendo enganada por aqueles que estão no poder. Ela não se sente enganada apenas pelo Poder Executivo, mas também pelo Poder Judiciário e pelo Legislativo. Mais ainda: se sente enganada pelos partidos políticos e, é claro, pelos próprios políticos
Sistema parasítico
O sistema político brasileiro é uma gigantesca teia de mentiras e de
roubo, e consiste em uma elaborada fraude sistêmica que foi criada para
servir aos donos do poder: presidentes e ministros, juízes e vereadores,
prefeitos e toda uma vasta gama de "servidores públicos". Aquelas
pessoas que conseguem entrar neste mundo de privilégios adquirem
benefícios enormes — e é assim que, até agora, o sistema vem se
mantendo.
Mas todo e qualquer sistema parasítico tem um limite. Os explorados têm
de estar em número maior que o de exploradores. É sempre necessário
que haja uma maioria de pessoas a serem exploradas por uma minoria. Mas
parece que a festa está acabando. A praça de alimentação dos parasitas
está se rebelando.
Para entender o que está acontecendo no Brasil agora é preciso ter em
mente que este país não sofre os males particulares dos estados
modernos. O Brasil sofre é de uma doença política muita antiga:
trata-se de um estado que está sob o domínio de uma classe parasitária.
O paralelo da atual presidente como uma espécie de Maria Antonieta e
seu antecessor como uma espécie de Luis XIV é válido. Como na França
daqueles dias, aqueles que estavam no poder (o que inclui o judiciário e
grande parte da burocracia pública) foram alimentados por um sistema de
impostos horrendos com pouco retorno para o povo. Este sistema de
tributos servia majoritariamente para financiar o esplendor, os
privilégios e todo o esbanjamento da corte real (hoje em dia chamada
"setor público").
Ideologia Brasileira.
O brasileiro, desde criança, está exposto a um sistema de doutrinação
sistemática, de propaganda de "direitos" e de "consciência social", e
foi "educado" para ver o Brasil como um país da democracia, da
solidariedade, da inclusão social e da liberdade. No entanto, a verdade
é que os governantes deste país são profundamente autoritários,
gananciosos, ávidos por poder e insensíveis ao sofrimento do povo.
O Brasil tem um sistema de liderança que se destaca em duas áreas: uma
grandiosa retórica vazia e uma profunda incompetência prática. Em
parte, o próprio povo brasileiro tem culpa das condições em que se
encontra o país, pois o que gerou esta situação foi a sua profunda
incapacidade de diferenciar entre a retórica de seus representantes e a
desastrosa realidade que eles produzem. Até este surto de
manifestações, o povo brasileiro sempre havia gostosamente adotado uma
ilusão de promessas de glória, ignorando completamente o fato de que
nada em que os seus governos tocam funciona.
O cinismo dos donos do poder é um perfeito retrato de como é o Brasil de
hoje: um país com estradas cheias de buracos no qual o governo afirma
que para promover a segurança do trânsito é necessário gastar enormes
quantias de dinheiro com a construção de lombadas. O Brasil de hoje é
um país em que os governos gastam montanhas de dinheiro em propagandas
contra a dengue enquanto vias públicas são construídas de forma que,
depois de uma chuva, a água fica empoçada por dias e semanas. O Brasil
de hoje é um país em que a propaganda oficial do governo prega inclusão
social, mas no qual há uma burocracia altamente bem paga que obriga
qualquer cidadão, mesmo o mais pobre, a contratar um despachante para
resolver o mais ínfimo trâmite oficial.
O Brasil de hoje é um país em que a propaganda oficial denuncia o
"capitalismo", a "globalização" e a "colonização" como sendo as raízes
de todos os males. O colonialismo seria a causa do atraso do Brasil,
sendo que a verdade é que o Brasil ganhou sua independência já faz 191
anos. O governo usa o fantasma da "globalização" para doutrinar o povo e
insinuar que quase todos os problemas do país são gerados lá fora,
pelos "americanos" em particular, sendo que a verdade é que o Brasil faz
parte dos países menos globalizados do mundo. Os livros-textos nas
escolas acusam "o capitalismo" por todas as desigualdades do país, sendo
que um verdadeiro capitalismo praticamente inexiste no Brasil, uma vez
que o país adotou variações perversas do capitalismo, como o capitalismo
de estado e o capitalismo de compadres, em que governo e grandes
empresas se aliam e se protegem mutuamente e mandam a fatura para o
cidadão comum, que inocentemente clama por mais estado como solução para
os problemas gerados pelo próprio estado.
Estamos às vésperas de uma revolução no Brasil e tudo indica que estamos
vivenciando aquele caso clássico de rebelião contra o estado por causa
dos impostos escorchantes que não geram nenhum retorno e por causa de
uma burocracia sufocante que asfixia a economia. A inflação de preços
foi apenas o gatilho dos protestos contra a elite política, que se
destaca exclusivamente pela arrogância e pela incompetência. Estamos
vivenciando uma rebelião do povo contra uma liderança que perdeu todo o
resquício de bom senso (se é que já teve um). Estamos vivenciando uma
rebelião contra autoridades que se banham em privilégios como os reis e
as rainhas do absolutismo, como a nobreza do passado — uma falsa elite
que se destaca apenas por sua incompetência, ignorância e corrupção. O
povo brasileiro começou a acordar para o fato de que o grande obstáculo
contra o desenvolvimento socioeconômico do Brasil advém majoritariamente
do próprio governo, e não necessariamente do capitalismo e da
globalização.
Os brasileiros parecem estar cada vez mais conscientes de que os homens e
mulheres que estão no poder são fantasmas que possuem um poder
meramente emprestado. Os donos do poder têm espírito, coração e alma
pervertidos, como é perfeitamente observável nas ações e nos
pronunciamentos de tais governantes. Quando o povo renunciar à
obediência, o fantasma vai desaparecer.
Para ter sucesso no longo prazo, os rebeldes precisam se libertar da
ideologia estatizante. Eles precisam deixar de gritar por mais estado,
porque é justamente esta a instituição que gerou todos os problemas.
Para ter sucesso no longo prazo, os manifestantes precisam encontrar a
verdadeira raiz do mal, que é o próprio estado brasileiro — um estado
grande demais com uma burocracia gigantesca e um aparelho de justiça
ineficiente e insanamente caro. O famoso "custo Brasil" são os custos
destes "poderes". Assim, uma agenda para o avanço do Brasil não precisa
conter nada mais do que estas palavras: "Menos estado é melhor".
Ainda não se sabe aonde tudo isto vai dar e nem para onde o Brasil vai.
A tentativa dos partidos políticos de usurpar a rebelião fracassou. O
governo se retirou. A presidente ficou calada. O governo não tem
resposta. Nenhum partido dentre a multidão dos partidos políticos
brasileiros tem uma resposta. Sendo assim, será que poderíamos nos
precipitar e dizer que estamos observando pela primeira vez no Brasil
uma "revolução libertária", uma revolução em que o povo não grita por
mais poder do estado, mas sim por menos nas mãos do governo? Ainda não.
A velha ideologia estatizante ainda não desapareceu. Os donos do poder
ainda estão no quartel-general. Mas o que está acontecendo no Brasil
de hoje é uma tendência mundial. Os brasileiros sinalizaram querer uma
outra forma de estado, um estado no qual não há mais donos do poder que
exploram o povo de uma forma ainda pior do que a nobreza do passado. Resta agora saber canalizar esta motivação para a direção correta.