domingo, 21 de abril de 2013

Cruéis rodeios - A exploração econômica da dor




Os corcoveios dos animais exibidos em rodeios resultam da dor e tormento de que padecem, não só pelas esporas que lhes castigam o pescoço e baixo-ventre, mas também pelo sedém, artefato amarrado e retesado ao redor do corpo do animal, na região da virilha, tracionado ao máximo no momento em que o animal é solto na arena. No bovino, o sedém  passa sobre o pênis; no eqüino,   passa sobre a porção  mais anterior do prepúcio, onde se aloja o pênis do animal.
Sedém, como a própria definição denuncia, é um cilício de sedas ásperas e mortificadoras (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Novo Dicionário da Língua Portuguesa, p. 1561, Rio de Janeiro, editora  Nova Fronteira). E a mesma obra  define “cilício” como tortura, martírio, aflição, tormento” .
Conforme o credenciado magistério da  Prof.ª Dr.ª Irvênia Luíza de Santis Prada, Professora Titular Emérita da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia  da USP, doutora em anatomia animal e  especialista em neuroanatomia,  a superfície ventral do abdome,  por não se achar protegida por    estruturas ósseas, possui maior sensibilidade  do que outras regiões. Assim, toda a linha dorsal do corpo do animal tem o reforço da presença da coluna vertebral, o que não ocorre na  superfície ventral e mesmo  na lateral do abdome, onde se localiza a  região dos flancos, havendo, portanto, natural reação dos animais em tentar protegê-la. Por relacionar-se à presença ou  à proximidade de estruturas  relacionadas aos  mecanismos comportamentais de auto-preservação (sobrevivência) e de perpetuação da espécie (reprodução), estímulos na região da virilha sempre são agressivos à integridade do animal. Há que se considerar ainda que a virilha  é  farta em  algirreceptores , ou seja,  possui  estruturas nervosas específicas para a captação de estímulos que provocam dor. Por ser uma região de pele mais fina, com mais intensidade, podem ser vivenciadas as situações de estimulação de tais  receptores.
É falsa, por conseguinte,  a impressão de que os animais exibidos em rodeios são  bravios e selvagens, uma vez que se trata de eqüinos e de bovinos absolutamente mansos, cujos saltos, coices e corcoveios decorrem da tentativa  desesperada  de se livrarem dos instrumentos que os fazem vivenciar  sofrimento físico e mental  infligido, sobretudo,  pelo uso do sedém  e das esporas.
É o que também concluem dezoito laudos oficiais solicitados pelo Ministério Público e pelo Judiciário, dentre os quais se destacam os proferidos pelo Ibama,  pelo Instituto de Criminalística do Rio de Janeiro e  pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP.
Em laudo pericial expedido pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli da Secretaria de Estado do Rio de Janeiro afirmam os peritos: “ o sedém, ao comprimir a região dos vazios do animal, provoca dor, porque nessa região existem órgãos como parte dos intestinos, bem como a região do prepúcio, onde se aloja o pênis do animal”.
Diante de uma forte constrição, a maciez do objeto nada significa. A título de ilustração, convém lembrar a morte da bailarina americana Isadora Duncan, ocorrida em 1927, quando sua longa echarpe de seda  enroscou-se em uma das rodas de seu automóvel, provocando-lhe  morte instantânea. Macio ou áspero, o sedém causa dor pela intensa constrição que exerce sobre área muito sensível.  Prova disso é o fato de  o animal corcovear  da mesma forma como o faz se submetido ao sedém áspero. Vale dizer que as reações exibidas são idênticas porque as sensações experimentadas são as mesmas.
Muitas vezes, a maciez do sedém nem mesmo consegue poupar o animal de lesões, conforme constatado por  perícia solicitada pelo Ministério Público, em rodeio realizado em Taboão da Serra. Não obstante ser o sedém confeccionada em lã, os animais apresentavam  dilacerações de pele na região da virilha.
Alegam os defensores da prática que o sedém provoca  cócegas e que esse instrumento permanece por apenas oito segundos em contato com o animal, tempo esse que seria insuficiente para despertar a sensação de dor. Convém esclarecer, entretanto, que basta uma fração de segundo de exposição ao estímulo doloroso para  fazer aflorar a  sensação de dor; do contrário, a chibatada não produziria dor alguma.
A propósito da mesma alegação, é oportuno lembrar que   cócega é uma sensação nervosa ou irritante, advinda  de leves toques ou de fricções ligeiras; jamais  uma compressão tão intensa como a provocada pelo sedém poderia ensejar tal sensação.
Mas o sofrimento imposto  não se restringe ao uso do sedém, pois os animais são muito sensíveis às esporas,   normalmente   utilizadas em montarias e em provas hípicas de forma criteriosa e com muita moderação, fazendo o cavaleiro uso dos pés para tocar o animal, com pouca pressão e sem insistência alguma.  Nos rodeios, entretanto, o peão se vale das pernas para, com força e violência,  e de maneira incessante, castigar  o animal,  que não é tocado por esporas, e sim golpeado por elas, na região do pescoço e  do baixo-ventre. Pela forma brutal com que são utilizadas, as esporas provocam dor, sofrimento e lesões, ainda que não sejam pontiagudas.
Ressalte-se que as provas de rodeio exigem a utilização violenta de esporas. No estilo “cutiano” de montaria em cavalo,  executado apenas no Brasil, quanto mais esporeado o animal, maiores são as chances de notas altas.   Na montaria em cavalo Bareback, o peão  coloca-se em posição quase horizontal, devendo  posicionar as duas esporas no pescoço do cavalo. Na  Bull Riding, montaria em touro, o animal é esporeado, principalmente, na região do baixo-ventre.      Já o estilo de montaria em cavalo  Saddle Bronc (sela americana)  exige que o peão puxe as esporas seguindo uma angulação que sai da paleta, passa pela barriga e chega até o final da sela, na região  traseira do cavalo.
Perícias  atestam que esse instrumento provoca lesões sob a forma de cortes na região cutânea e,  não raro, perfuração do globo ocular. No Rodeio Mundial Universitário de Maringá, realizado em 1997, e no   Rodeio Universitário de Uberaba, ocorrido no ano seguinte,  65% dos animais utilizados apresentaram lesões por esporas.
E as peiteiras também provocam dor e sofrimento à medida que passam por cima do nervo torácico lateral que é bastante calibroso, responsável pela enervação da porção anterior da parede latero-ventral do tronco. Conforme declaram o próprios executores da prática,  há um grande número de animais que  necessitam de forte pressão na peiteira para que reajam  da forma esperada.
No estilo “cutiano” de montaria em cavalo,  o peão fica apoiado unicamente em duas cordas que são amarradas à peiteira, fazendo com que o animal sofra ainda mais a compressão causada por esse instrumento.
Após ser submetido ao uso do sedém, que lhe é colocado no brete, a  simples visão desse local suscita nos eqüinos e nos bovinos  reações de fúria e de forte resistência, uma vez  que o animal registra em sua memória as experiências que vivencia. De regra, o animal recusa-se a adentar o brete, razão pela qual os peões valem-se  das estocadas de choques elétricos  para forçá-lo à essa entrada, o que provoca  dor extrema, urina e defecação   descontrolada.
OBS: Tanto os rodeios quanto as touradas, assim como a farra do boi, são práticas abomináveis, que se todos souberem e pensarem, nunca iriam a esses espetáculos de horror!


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